>:: Corredor ::<

++Charles++

Voltar para o auditório talvez fosse o que eu não queria de maneira nenhuma e o encontro com Will não servia mis do que para retificar tal certeza. O que diabos o idiota retardado fazia ali? Viera me encher o saco de novo para ir falar com aquele vampiro que chamava de vovô e não o fazia mais do que tratá-lo como bichinho de estimação? Isso não era do meu interesse, muito menos do de uma aberração como ele era quando tentará tomar minha vida pela primeira vez. E na segunda, bem, apenas preferia me segurar por enquanto para não cometer uma esganadura contra e meu sósia. E a melhor maneira de fazê-lo foi esperar.

Não. Não falo da abertura ou sobre qualquer evento desinteressante que pudesse se seguir ali, mas de Ferdinand e dos outros cachorrinhos da diretora, que esperei passar por mim, antes de me esgueirar para fora. Para o corredor, onde o ar parecia mais livre e a respiração mais fácil. Até que achar um lugar mais vazio e um pouco de sangue me parecia melhor. Mas onde afinal tinham se metido Oliver e Trevor?  

Há muito tempo aprendi a desprezar humanos e qualquer tipo de sentimentalismo. Tinha doze anos e um cérebro inocente capaz de fazer de tudo pelos outros e ajudar quem precisasse. Não tinha ambição ou muita malícia, era apenas uma criança boba que em tudo acreditava e que acabará sendo traída e roubada por um primeiro amor utópico. Desprezível e oportunista. Talvez tenha sido essa minha primeira impressão antes do meu frenezzi e de conhecer o maravilhoso sabor de seu sangue enquanto gritava em desespero.

Primeira impressão, talvez eu tivesse pensado. Mas isso fora antes. Antes dos Hunters e das experiências. Antes de conhecer o mundo e me adaptar a ele. Antes de conhecer meu lugar e o lugar deles. O alimento, a diversão e a manipulação. Novas formas de sempre conseguir o que quero é apenas continuar vivendo pelos meus desejos mais infames e bem estar. Antes de Sakura e daquele sentimento estranho e muito mais forte que o desejo por seu sangue que me ligava a ela. E que me fizera sentir raiva ao ver aquele olhar ou ao vê-la me ignorar.

Se a amava? Confesso que não conheço esse tipo de coisa. Era mais como uma espécie de laço. Uma obsessão que parecia não querer sumir e me perseguia nos últimos anos, ficando mais clara toda vez que me aproximava perigosamente dela. E junto com isso,,vinha a estranha sensação de querer me explicar, de querer segui-la e impedir que um sangue que me pertencia fosse tomado por vampiros oportunistas.

É. Essa era uma boa desculpa para se dar, pelo motivo pelo qual corria. Ela era minha. Somente minha, como uma mina de ouro de sangue que havia marcado no primeiro dia de aula. Que tinha achado ter perdido e agora tinha voltado a vida como um milagre mal explicado que ainda me pertencia.

O que ia fazer assim que alcançasse-a? Nem eu sabia. Talvez lhe devesse por algum estranho motivo uma explicação, não que essa viesse de graça. Ela também me devia uma, das grandes e mais irritantes, que a faria responder na marra. Só tinha que alcançá-la e...

Mas, de repente, o som de passos à frente parou, embora o cheiro de sangue ainda fosse evidente. Ela parou. Pensei avançando em silêncio pelo corredor, até parar também. O que era aquilo? Alguém quase desmaiado perto da parede?

-Que merda que...?

Então finalmente liguei os pontos. O cheiro inebriante, as lágrimas e o delicado corpo da japonesa.

-Sakura?

Exclamei me aproximando e segurando seus pulsos quase forçadamente, enquanto seu olhar vazio me encarava meio grogue ou drogado. Tum, Tum. Eu podia ouvir em tom fraco que tendia a diminuir.

-Baixinha, você está bem..?

Perguntei de novo, chacoalhando seus ombros como para chamar sua atenção. Seu cheiro ali era tão forte que beirava o insuportável, e a raiva ainda me consumia, mas haviam coisas mais importantes a me preocupar.