Assunto: Re: >:: Salão de Música ::< Seg 14 Dez 2015 - 18:28
Raphael Grifftis
Oinverno finalmente reinava na cidade de Ambarantis, os flocos de neve deslizavam delicadamente pelo céu em uma dança sombria e hipnotizante. Os olhos azuis de Raphael se perdiam nos tons de cinza, todo aquele branco lhe trazia memórias que gostaria de esquecer.
O vampiro estava recluso na sala de música, não havia ninguém ali, exceto, instrumentos musicais, grandes sofás e um belíssimo piano que ficava de frente para a enorme janela que Grifftis estava apoiado por um dos ombros. Até quando aquele silêncio também reinaria dentro dele? Afinal, porque havia voltado se nada parecia mudar?
Inconsciente ele deixou uma das mãos deslizarem para dentro do bolso da calça, os dedos tocando com receio o anel de Alexandre Grifftis. O metal da joia estava frio a ponto de fazer Raphael se contrair, mas era uma frieza incomum, algo que somente ele poderia reconhecer, a frieza da morte e da destruição. Grifftis se perguntava como seu pai havia morrido de fato, nada descartava o fato de Dante estar envolvido. Ou melhor, ele tinha certeza que o meio irmão havia planejado aquele ataque, pois agora o mesmo já havia se tornado soberano de duas famílias de linhagem pura, já Raphael...Era o filho bastardo que ficou com apenas com uma mansão vazia e uma fortuna na conta bancária.
- Griffti's...- a voz de Raphael saiu fraca por entre os lábios, ele apertou com força o anel, se afastou dos vidros da janela e caminhou vagarosamente pelo salão até se aproximar do piano. Ele retirou a mão do bolso e deslizou as pontas dos dedos pela madeira preta e laqueada, deixando pequenos rastros na fina camada de pó.
Grifftis, pensou...Grifftis, porque pesava tanto carregar aquele sobrenome...Grifftis, porque era um bastardo numa família tão poderosa...Grifftis...porque doía tanto ser um?
Com elegância, ele sentou no piano e ergueu a tampa de proteção das teclas, dedilhando algumas notas para verificar a afinação do instrumento. Raphael se deu conta que fazia muito tempo que não se dedicava para o que gostava de fazer, estava convicto apenas na vingança, na sua ascensão a sangue puro, na destruição de seu irmão. O vampiro deixou a outra mão deslizar pelas teclas e assim a melodia foi surgindo e crescia tornando-se mais dolorida e intensa.
"-E você, Sara?" - os dedos de marfim se camuflavam nas teclas alvas do piano, era incrível a intensidade emocional que se apoderava das notas. A cada batida, ele ia se lembrando de uma Sara ferida e incomum, a voz dela ecoando nos ouvidos, os olhares que já foram doces inflamados de repulsa, as frases confusas de amor e ódio. " - Eu estraguei você..." - os acordes aumentavam em lamúrias, pareciam chorar a cada timbre do teclado. - " Eu matei você.".
- Eu matei...- Grifftis bateu os dedos com força, bateu uma, duas, três vezes... - Eu matei a todos! - a voz saiu esganiçada, presa na garganta, ele espalmou as duas mãos nas teclas fazendo um som agudo e ensurdecedor. Raphael tombou a cabeça levemente para trás, os cabelos platinados e desgrenhados deslizaram sobre os olhos levemente avermelhados. As mãos caíram sobre as coxas, ali ele ficou, preso na guerra silenciosa que se estendia na academia, no inimigo que quase lhe dividiu ao meio, a Dante e a Sara Augustine.