Suíte Master 602

Nada poderia prepará-la para ouvir aquela mudança radical de personalidade. Seus olhos se arregalaram e ela engoliu em seco, criando um respeito que não existia anteriormente pela figura do ruivo. Nem pensou em interesses próprios naquele instante, apenas sentiu uma surpresa genuína e aquela adrenalina que a movimentava trouxe também uma pontinha de um medo sedutor.

Com um raro brilho no olhar, ela tornou a se aproximar dele, dessa vez mais lentamente e cuidadosa. A forma como ele descrevia a morte da ruiva soava como uma melodia perfeita e atraiu até ele. Acreditava sinceramente que ele conseguiria fazê-lo e aos poucos gostaria de explorar melhor aquela personalidade ou... o que mais poderia ser?

- Ora. Eu o julguei mal... - disse, sincera, e ousou tentar encostar em seu rosto, seus olhos estavam completamente atraídos - Eu acredito. E você terá todo o apoio que quiser de mim, Lewis. - Disse mansa, sem nem chamá-lo por qualquer apelido ou fazer ironias. Afinal, aquela era a face de um homem que ela queria a seu lado, não como uma brincadeira. Era como se ela estivesse diante de um achado muito raro e tomava cuidado com cada gesto. - Você vai matá-la e quero estar lá para assistir.

Um de seus objetivos tinha acabado se tornar trazer aquele homem para a superfície e se a morte da garota fosse um estopim...então que assim fosse.

Vilhelmina mostrou um lado totalmente novo ao ruivo. Resgatando aquele fogo apaixonado, principalmente pelo "empurrãozinho de sangue", ela reagiu com intensidade a cada toque. Aqueles eram traços semelhantes a sua paixão obsessiva pelo homem de sua irmã que ela fez questão de seduzir, não que Lewis tivesse conhecimento ainda daquela história.

Agora que confiava nele, de certa forma, podia entregar-se sem preocupações. Antes confiante e dominando-o, o vampiro podia perceber que antes não passava de um jogo e seu verdadeiro prazer era ser dominada de forma agressiva, uma fórmula mágica de trazer um lado autêntico dela, algo que ela sentia de verdade, não apenas como teatro, um passatempo ou forma de dominar os outros. Parecia testá-lo, tentando voltar a seu controle, apenas para obter mais e mais demonstrações de sua força.

Após repousar na cama confortavelmente, com um sorriso satisfeito no rosto e milhões de pensamentos bons... ela riu, olhou para ele e voltou ao tom jocoso, mas com um inegável brilho nos olhos.

- Uau. Até que eu não escolhi mal - brincou e aproximou os lábios dos dele, agora falando em um sussurro - Gostei mais de você assim - sorriu e o beijou suave, afastando-se em seguida, agora sim voltando ao estado aparentemente normal, mas incrivelmente muito mais bem humorado e leve. Como um gato que recebeu o afago desejado. - Vou tomar um banho, tem uma camisa pra mim?

Minna nem podia esperar por um dia que substituiria seu interesse romântico. Sua mente estranha tinha apagado Ulrika sem um pingo de remorso e agora já substituía por aquele Murdock que ela mal conhecia. Se ficassem juntos, até se interessaria em "dar" seu clã para ele (sendo a primeira-dama eterna e seus poderes incontestáveis, é claro). Isso resolveria tão facilmente o problema do pivete loiro e sua filha estúpida...

Afofava os cabelos na frente do espelho. Agora não precisava nem mais se esconder. Mudar a aparência seria bom. Talvez andar como um homem poderia ser uma boa ideia também. Mas poderia aposentar sua bonequinha enquanto não tinha um recipciente com mais consistência. Foi um grande problema todo o esforço que fez para ajudar Lewis daquele jeito, mas agora que não estava mais sozinha, não seria um alvo tão fácil.
Vestida com a camisa, voltou para a cama e observou sua forma dormindo.

"Que gracinha", debochou internamente. Gostava também da ideia de que ele estava tão vulnerável perto de si depois de se mostrar o homem que ela precisava.

Sorriu e subiu na cama e o observou por uns instantes e avaliou se era uma boa ideia tentar descobrir aquela mente de novo, pois estava cansada também.
Talvez só um pouquinho?  Afinal, ele estava dormindo...
Tocou seus cabelos ruivos, fazendo um leve carinho, mas quando ele abriu um olho, acabou desistindo. Teria muitas oportunidades para fazer isso, permitir que ele soubesse e quem sabe trazer à tona aquele jeitão agressivo sempre.

Deu um meio sorriso, como se pedisse desculpas por acordá-lo, afastando a mão e deitando na cama respeitando a divisão da mesma entre os dois. Ficou um tempo olhando para o teto e depois fechou os olhos. Tinha um jeito peculiar de individualidade, mesmo que tivessem experimentado um momento íntimo.

- Vai dividir suas insatisfações comigo ou pelo menos o que tem aí nesse papel? - disse chegando pelo lado e sentando-se a seu lado, forçando um lugarzinho para ela. Tinha adotado aquele quarto de hotel como se fosse seu, deliberadamente pegando outra roupa dele para vestir por enquanto. Espiou então o que ele segurava - Oh. Casamento da realeza. Como está chique. Algumas pessoas matariam para ter seus contatos, rapazinho - deu um sorriso debochado - Então... devo usar vermelho e o rosto de sua amante ou quer variar e parecer garanhão? - disse já se convidando

- É você engana bem - comentou sobre a aliança entre o ruivo e Loran enquanto olhava o convite em suas mãos - Mas também... aquele lá parece que não bate muito bem. Quem diria que apareceria em um lugar como aquele?

Ela riu quando recebeu um tapinha na coxa e respondeu com um sorrriso selvagem.

- Está bem~ - Em seguida, caminhou até o espelho mais próximo, olhando-se no espelho cuidadosamente, manipulando o cabelo, pensando se mudaria de aparência na festa, enquanto ouvia o relato dele. - Hm... Podemos rever o momento se você quiser. - Caminhou até ele, pronta para transmitir o que se lembrava do ataque na noite anterior.

- O que importa é que você tem que ter mais cuidado agora, 'hermoso'. Mas não se preocupe. Agora vou de corpo presente... E lembre-se que posso sempre me transformar em você para enganar seus inimigos... ou projetar uma imagem estática para uma armadilha. - Beijou seu rosto em seguida.

- Está bem! - disse com empolgação. Afinal, se ele reconhecesse quem o tinha atacado, isso provavelmente significava uma bela confusão. Dificilmente o agressor imaginaria que ela tinha o poder de reproduzir sua imagem, ainda que usasse um capuz.  Estava muito curiosa para saber o que aconteceria.

Ela olhou para cima, lembrando do dia e aos poucos foi modificando sua aparência para que ficasse semelhante ao que se lembrava. Agora agradecia ter gastado um pouco mais de energia para revidar o ataque. Sorriu de forma selvagem, ansiosamente.

- E aí? É seu amigo?

- Ei, mas já? - a vampira o olhou com um misto de surpresa e satisfação. Em seguida, sentou-se na beirada da cama, observando-o de camarote com um sorriso irritante, já de volta a sua forma normal. Adorava o fato de ter causado aquilo.

- O quê? Eu? - teatralmente levou a mão ao peito, mas notou que ele pouco estava se importando com sua ceninha. Era sério! Algo ótimo iria acontecer - Ei, ei, vamos, me espere um pouquinho.

Vilhelmina levantou-se apressada e capturou alguma roupa dele mesmo no armário, acabando com uma aparência um tanto moleca (ou andrógina, como seria o comum de sua família)

- Espere por mim, não posso perder isso por nada. Quer alguém em especial para acompanhá-lo? - as ideias de tortura psicológica pipocaram em sua mente, imaginando se teria que se disfarçar de alguém e deixar a situação mais apimentada.

Assim, acompanhou-o pelo caminho. Já estava mais do que na hora de sair dali um pouco e arranjar roupas próprias mais tarde.