“Hey Sister, do you still believe in love I wonder”
Stelian mal notava as pessoas no saguão quase lotado, a maioria das pessoas ali eram da imprensa, chegavam aos montes para noticiar e cobrir da melhor forma os acontecimentos na cidade de Ambarantis após o suposto ataque terrorista.
Apressado, ele andou de balcão em balcão, de cada companhia, desesperado por uma passagem que o levasse a Romênia o mais rápido possível. A única disponível para aquela madrugada ainda demoraria duas horas para embarcar.
Não houve escolha. Ele pagou por aquela passagem e voltou para a área de espera, sua cabeça doía e seu coração batia de forma descompassada, o gelo que ele controlava agora parecia tomar conta dele.
Com o bilhete de embarque e o passaporte em suas mãos, ele batia um dos pés de forma nervosa no chão, sua mente voltando e remoendo aqueles gritos que havia ouvido no telefone quando ligara para casa. O que estaria acontecendo?
Ele não sabia, mas algo dentro dele desenhava um cenário do qual ele se negava a acreditar.
Stelian passou a mão pelo rosto, os olhos cinzas estavam angustiados e cheios de dor, em sua alma, dedos de pavor tocavam sua espinha, arrepiando cada pêlo em seu corpo.
Yan Yuriev o havia dispensado, seu pai não lhe dera nenhuma resposta, sequer lera seu e-mail e sua mãe…
Ele estremeceu. Leila não era sua mãe biológica, mas fora a única que conhecera ao longo da vida, visto que sua mãe verdadeira, Carmem, havia falecido em seu parto, pois era humana.
Leila Mihaela era prima de Victor e o casamento fora arranjado pouco depois que Stelian nasceu. A família acreditava que Victor não deveria mais se envolver com humanos, portanto, o mais sensato seria formar uma família nobre, com filhos nobres.
Apesar disso, Victor nunca abandonara Stelian, como muitos da corte romena costumavam fazer, pelo contrário, fizera de tudo para que o vampiro mestiço fosse o mais belo e nobre entre todos da família, lhe dera a melhor educação e Leila, por sua vez, sempre se empenhara no mesmo.
Apesar do casamento arranjado, logo nos primeiros anos, Leila e Victor despertaram um grande sentimento de afeição entre eles, ao modo deles. A lealdade velada que corria entre eles, formando uma corrente única, dera a Stelian a segurança que precisara para crescer dentro da corte.
Cerca de dez anos depois, quando Leina nasceu, a relação entre o casal parecia se consolidar ainda mais e Stelian, pela primeira vez, sentiu algo que jamais experimentara: o amor.
Ainda não havia nenhuma nuance de romance ou algo assim, mas sempre que olhava para Leina, seu coração se enchia com um sentimento único, algo que ele não conseguia descrever.
Leina era a primeira pessoa na imensa mansão que Stelian ia procurar ao acordar e a última que via antes de dormir.
Ele tocava harpa para ela todos os dias e lhe contava histórias e mais histórias, sempre buscando mais livros em sua biblioteca, para mantê-la presa em sua atenção.
Todo aquele carinho era correspondido sempre a altura e logo Leina e Stelian logo se tornaram inseparáveis. Leina se tornou uma jovem agitada, sua beleza de adolescente chamava a atenção e, ao contrário dele, com uma educação mais rebuscada, Leina mantinha sua personalidade conforme sua aparência de adolescente e, mesmo com seus noventa anos, parecia ter nascido naquela sociedade moderna e atual.
Gostava de tirar fotos, de sair com suas amigas humanas, a maldade contida no sangue romeno parecia que, de alguma forma, não a havia afetado. Talvez fosse a mesma fórmula mágica que fizera com que seus pais mantinham o amor entre eles.
“Leina, o que aconteceu com você?” - Stelian sentiu seu coração apertar ainda mais, tentando, em vão, entrar em contato com sua irmã.
Arrasado, Stelian sentia que o mundo à sua volta desabava. A certeza de que Leila e Leina, assim como seu pai estavam mortos, era uma realidade que se desenhava mais concreta em sua mente, mas, algo dentro dele, ainda teimava em dizer que não.
Não conseguia entender quem ou o motivo para que todos de sua casa fossem mortos.
“Yuriev… ele… ele seria capaz?” - Stelian estremeceu. Por que Yuriev mataria eles? Não havia razões, sempre foram fiéis ao clã de puro sangue local, sempre apoiaram os projetos de grandeza daquele império que começava a se formar.
Seu corpo estremeceu quando seu celular tocou, a foto de Leina aparecendo em sua tela, seu coração disparando.
-Stelian! - a voz de Leina era esganiçada e parecia que ela estivera chorando - Stelian… papa… mama… eles…. eles morreram! - o tom de desespero dela partiu o coração de Stelian no meio, ele queria estar ali para abraçá-la.
-Aquele… homem...ele… ele matou a todos! Ele… ele...- o telefone fora arrancado da mão de Leina e o som de uma briga se fez ouvir, móveis sendo quebrados, peças de procelana e vidro caindo no chão.
- Stelian, por favor, não volte! Não volte ou eles vão matar você! Por favor! Fuja! - a voz de Leina implorava ao fundo, até o momento em que a chamada fora finalmente encerrada.
Ofegante, Stelian desligou seu celular, sua mente trabalhava de forma frenética, seu coração ainda mais descompassado. O que estava acontecendo afinal?
Ele olhou para a passagem em suas mãos e hesitou. Leina dissera para que ele não voltasse, ou seria morto. Morto.
Leina, naquele momento também poderia estar morta e pensar naquilo fez com que Stelians e enchesse de fúria. Ele precisava voltar, precisava saber o que havia acontecido. Além disso, se Leina e seus pais estavam mortos do que adiantava viver?
“Vingança…” - foi essa a única resposta que Stelian encontrou em sua mente.
As duas hora seguintes se arrastam e ele finalmente estava sentado ali, olhando o céu de Ambarantis de cima, a cidade ficando para trás.